sexta-feira, 18 de junho de 2010

Suum cuique tribuere...de Caravaggio

Medusa, Michelangelo Merisi da Caravaggio, 1598
Firenze,
Galleria degli Uffizi.

Gosto bastante de alguns Caravaggios, apesar -ou pelo tenebrismo- e pela abundância tão impressiva do claro/sombra-.
Mas não aprecio a liturgia religiosa da época (ou em qualquer época).
E Caravaggio (1571-1610) está cheio dela.

Memorial do Convento e O Ano da Morte de Ricardo Reis

De 1982 e 1984 li dois extraordinários livros de José Saramago:
"Memorial do Convento" e "O ano da Morte de Ricardo Reis".
Do primeiro acho mesmo que foi o melhor livro, de sempre, de todos os que li de autores portugueses. Pela criatividade, pela pesquisa, pela narrativa e, muito importante, por um estilo
peculiaríssimo, absolutamente único. E maravilhoso e onírico.
Sete Sóis, Blimunda e a Passarola nunca mais deixaram de pertencer à minha biblioteca mental dos momentos felizes e plenos a ler livros, boa literatura.

Dos outros, uma certa desilusão foi crescendo com a Jangada de Pedra, Ensaio sobre a Cegueira e Todos os Nomes. A excepção terá sido a História do Cerco de Lisboa, ainda no final da década de 80.

Pela pessoa-personagem vista-ouvida e lida nas entrevistas, documentários e notícias, nunca senti grande simpatia.
( Uma breve incursão num dos Cadernos de Lanzarote afastaram-me para sempre dessa forma de conhecimento do homem.)

As suas posições políticas eram corajosas porque não receava o mal que elas pudessem causar.
Dizia claramente o que pensava, era frontal e pensava ser sempre coerente.
Sobre a religião tinha coragem de ousar quebrar tabus que ainda hoje aprisionam: Torahs, Vedas, Corões e Bíblias não são grandes flores...
Não eram corajosas quando denunciava a invasão do Panamá, o bloqueio a Cuba e a guerra do Vietname e não tinha protestado minimamente contra outras invasões odiosas da história, a revolta de Budapeste de 56, ou o esmagamento da Primavera de Praga em 69, ou mesmo a "ajuda internacionalista" a cliques do Afeganistão ou da Etiópia.
De resto, muita na linha da ortodoxia maniqueísta do partido a que pertenceu.
Ainda que talvez com algumas nuances nos derradeiros anos de vida.

Em resumo, alguns livros únicos e um merecido Prémio Nobel (embora não seja despiciendo objectar quantos imerecidos ou muito duvidosos não o foram também já... Claude Simon é um dos que me vem à memória... para não falar do atribuído a... Churchill em ...1953; ou a Bertrand Russell que adoro em ...1950.)
( Admiro Churchill mas como personalidade histórica importantíssima, e controversa também, da primeira metade do séc. XX)

Uma interessante entrevista a Adelino Gomes em 2006.
E esta outra a João Céu e Silva.

Morreu...

José Saramago.