Café
Calmamente retira o cigarro do maço, acende-o e senta-se. A esplanada, àquela hora, está vazia. O silêncio agrada-lhe. Muitas vezes sentiu a necessidade daquele silêncio. Por vezes é tão difícil de encontrar que um raio de desespero a fere. Agora não. Abre o livro e olha para a marca que fez no canto inferior direito. Faz sempre marcas no canto inferior direito. Sempre viu marcas de paragens de leitura no canto superior direito. Deve ser por isso que marca as paragens dos livros que está a ler dessa maneira. Sente-se bem, dormiu bem, gosta de si. Relê meia página anterior perto do local mais aproximado que se lembra da véspera. Recentra-se. Recompõe-se na cadeira da esplanada já não vazia. Duas pessoas, duas clientes estão agora sentadas, num dos cantos da esplanada. Falam muito baixo, sussurrando qualquer coisa indecifrável. Fica a olhar para elas, fixa o olhar nelas. Adora observar os outros. Uma está vestida com o esmero exagerado das mulheres quarentonas que vivem sozinhas, por von...