Trápio Não se assustem. Sou eu, o cão. Melhor, um dos cães. Acontece que sou o único que escreve. Todos os outros são, ou eram, só os outros cães. Nenhum deles escreve, nem sequer desenha ou pinta. Está também excluída a possibilidade de dançar, ou ainda mais inverosímil, de pensar. Acredito que estejam com imensa vontade, se é que não o fizeram já, de não perder tempo com mais uma idiotice, agora que todas as idiotices são permitidas, que todos os cães es… perdão!, que todas as pessoas escrevem e têm milhares de coisas novas para dizer, coisas profundas, coisas verdadeiras, coisas únicas, coisas universais e coisas autênticas. A democracia escritural veio para ficar, foi o que ouvi dizer, não sei. Eu só, apesar de parecer grotesco, me ocupo de canicidades, como um cão. Deixo as humanidades para os humanos. Que bem precisam, li algures. Estarão a interrogar-se: como é possível que a impossibilidade esteja mesmo aqui diante dos nossos olhos? Boa pergunta para a qual não tenho res...