domingo, 4 de julho de 2010

Portugal y España

"A nossa selecção de futebol é muito inferior à espanhola. A nossa selecção de jornais também. A de colunistas nem se fala, embora seja difícil imaginar com quem se pode comparar um imbecil ilustrado como VPV, um católico ultramontano como César das Neves ou um diletante como MST. Se nos compararmos, perdemos em quase tudo: na poesia, na novela, na viola de gamba, na saúde oral e no tamanho dos narizes. Ontem viu-se, quando as câmaras focavam a assistência: uma mulher guapíssima passando bâton pelos lábios, alternava com um broeiro lusitano, atarracado e hirsuto. A Espanha teve de tudo e a sério. Teve anarquistas e falangistas, brigadas internacionais e fossas comuns. Na primeira metade do século XX a Igreja Católica em Portugal foi nojentinha. Em Espanha foi mesmo nojenta."

N'
A Natureza do Mal

Renoir e a Pintura

"Sempre esta necessidade de procurar as ideias na pintura! Eu, perante uma obra prima, contento-me a apreciar."

Pierre-Auguste Renoir

O vento

Eu gosto muito do vento. Ou de vento, como preferirem.
A vaca é um animal doméstico. Ela dá-nos leite, carne e couro. A galinha, para além de uma estupidez ancestral, é um animal doméstico que nos dá ovos e carne.
Ora o problema é que o vento não é um animal doméstico.

O vento não pertence a ninguém, o que o torna extremamente perigoso. O vento não dá para ser domesticado.
O vento pode é ser roubado.
É o que tem acontecido com aquelas enorme hélices de helicópteros mancos que pupulam por tudo quanto é sítio. Mas roubado não é o mesmo que domesticado.
É manietado nos seus direitos.
Não sei se o vento se queixa mas se fosse eu não gostava de ver aqueles monstros brancos nos montes e montinhos do meu país. Parece que são úteis e nos fornecem energia eléctrica. Aí está: o vento não é doméstico mas já arranjaram maneira de ele ser um pouco como a vaca e a galinha.

Mas o vento está-se nas tintas para isso porque o vento é livre. Roubem-no um bocadinho que ele rala-se bem com isso. O vento despenteia os penteados e penteia os despenteados. É por isso que eu gosto tanto dele!
O vento é um desmancha-prazeres mas, às vezes, é um montador-de-prazeres como nos casos dos balões e dos parapentes, mas nestes últimos é só às vezes, o que torna o às vezes já em muitas vezes e aí as coisas podem dar para o torto. Podem.

O vento é uma ovelhinha negra da natureza. Por vezes desaparece e faz com que as caravelas do saudoso e aventuroso Gama fiquem para ali a molengar sem saberem mesmo para onde ir, numa calmaria que, contudo, é bem melhor do que aqueles planos fixos do Oliveira que são absolutamente insuportáveis por muito estéticos que eles sejam. E poéticos. Eu não gosto nada da poesia parada, de uma lentidão ainda inferior à de um caracol desmesuradamente preguiçoso, coisas. Mas, sobre este aspecto concreto, não sei a opinião do vento.

O vento trata os ciclones e os anti-ciclones por tu-cá-tu-lá, e umas vezes está nos Açores e dali a nada está nas Caraíbas, e depois já é alísio e depois, como é do contra, já é contra-alísio, vá lá entendê-lo. O vento gosta de chatear, como já vimos, mas há uma categoria de seres humanos que nunca se queixa do vento: os carecas. Os carecas não ligam nada ao vento. O vento para eles não existe e parece que vivem felizes, até porque com aquela particularidade nunca apanham piolhos, nem lêndeas. E o vento é um óptimo propagador de piolhos, além de ser muito chato para aqueles jogadores de futebol que usam umas fitinhas no cabelo para as melenas não lhes cairem para os olhos e eles não poderem rematar e marcar ou defender golos. Porque o vento é tramado nos olhos. O vento nos olhos dá cabo deles. E os jogadores têm o prestígio a defender e a carreira.

O vento está-se nas tintas para a carreira e para as carreiras.
Seja a carreira do 28 que vai até Algés, seja a carreira do senhor doutor que preza muito a corporativa ascensão e subida na mesma. O vento está para as carreiras como as rosas vermelhas estão para o deserto da Galileia. E venta.

O vento o que faz? O vento venta, ou venteia, assobia, rodopia, pipila, varre, desmancha, enrola, desfaz, ensarilha, envolve, tapa, leva. Por exemplo: o vento leva as palavras, como ajuizadamente no provérbio.
E lá vão elas, as palavras, levadas pelo vento, já sem amarras, nem atilhos, nem correntes, nem páginas, nem leitores, nem livros, nem nada.
O vento leva as palavras e as palavras vivem livres.

O vento também ri. É uma das suas melhores características. O vento ri dos disparates dos disparatados que não sabem que disparates andam a armadilhar há anos e anos e sem consequências. Ou com muitas.
Um disparatado-mor, ou uma, faz os maiores disparates dos últimos trinta anos e o que é que lhe acontece? Dão-lhe o prémio de uma sinecura na presidência de uma fundação de amizade com um país do outro lado do Atlântico. Bem pensado.

Aí o vento ri mas fica a pensar por que razão os disparates têm tanto valor, para mais quando mascarados de talhantes, ou farsantes, estatísticos: sabe-se que um quilo de carne custa, na média europeia, 7 euros e 35 cêntimos mas o preço que é pedido é de 6 euros e 58 cêntimos, para ficarmos bem na fotografia da média europeia, mas que obviamente não corresponde à realidade. Mas o talhante, ou farsante, está-se bem nas tintas para a realidade.
O que interessa ao talhante, ou ao farsante, são números, números, números. Ou as médias dos números.

O vento, por vezes, cansa-se e vai descansar para a praia. O vento adora a praia,
estar ali à torreira do sol a arder, saborear o sal que fica nas suas costas, enfim, desfrutar de um pouco de repouso no meio de dezenas, ou mesmo de centenas, às vezes até milhares.
Depois, acorda, chateia-se, levanta-se, rodopia e põe-se a varrer aquela malta toda que foge, atarantada, para os seus carros que ficaram a escaldar que nem ovos estrelados acabadinhos de fazer. Os grãos de areia enfiam-se por tudo quanto é sítio, nos ouvidos, nos cabelos, nos olhos, no tablier do carro e até na garganta do cão que rosna, irado, porque não compreende nada do que se está a passar e ainda por cima gritam com ele.

O vento, cansado de tanta erupção, e confusão, e desarranjo, eclipsa-se.
Desaparece.

Muito lá longe o vento ri e sorri porque, apesar da sua vontade ou até pela sua vontade, ele sabe, bem no seu íntimo, que é eterno, que nunca morre, nem ressuscita, que nunca é sepultado sob lajes mais ou menos pindéricas, que nunca é cremado em piras nas margens do Ganges, ou nos crematórios das cidades, que é sempre jovem sendo sempre velho, que é só ele, com ele.

O vento lembra-se e sorri de novo.
O vento adora papagaios. De papel.

Janis Joplin



Biografia
Vídeos

Passagens de ano à força.

"Convocam-se os Directores de Turma e os Professores que atribuíram nível negativo aos alunos sujeitos a Planos de Recuperação e de Acompanhamento para Reuniões, a realizar de acordo com o calendário abaixo indicado e com a seguinte Ordem de Trabalhos:
1. Avaliação dos Planos de Recuperação e de Acompanhamento: introdução de dados na plataforma da DREN".

"Este tipo de reuniões tem um duplo efeito negativo:
Leva os professores à exaustão, roubando-lhes a motivação e o entusiasmo pelo ensino.
Conduz a uma pressão para o recurso à passagem administrativa e à criação do sucesso escolar para a estatística.
Reparem no teor da convocatória e digam se ela não configura um castigo aos docentes que ousaram atribuir nível negativo aos alunos sujeitos a Planos de Recuperação e de Acompanhamento. É com actos destes que se destrói a profissão docente."

Ramiro Marques

O Fabuloso Mr. Nixon!

O pressuposto assassinado escapou até ao 11 de Setembro de 1973.
Nem mais um dia.

Uma Santidade nada santa...

Por Gianluigi Nuzzi.