sexta-feira, 2 de julho de 2010

O Brasil soçobrou...

Eu soçobro, tu soçobras, ele soçobra, nós soçobramos, vós soçobrais, eles soçobram.

Boas equipas não falam muito, não mostram soberba e até, também, soçobram às vezes.
E de mais de 190 países só um explodirá de alegria, exangue, no fim. Enquanto um a um vão morrendo os outros. Que raio de morte para esta vida!...

Peixe cozido e gravatas...II

(Qualquer semelhança entre a fantasia e a mentira é pura realidade.
Mas os factos são verdadeiros.)

Peixe cozido e gravatas...I

...Só sei que sei que não gosto de peixe cozido! E de gravatas! Por isso é fácil. A minha vida é muito fácil. Aliás, a vida das pessoas costuma ser fácil, só os ignaros é que a tornam difícil. Viver a vida facilmente é uma arte e os artistas, como se sabe, têm vida fácil. Facílima. Por isso é que existem tantos e tão facilmente. Muitos deles não gostam de gravatas nem de peixe cozido. Como eu. Por isso temos tantas afinidades. Por exemplo, um chinês que pensa como eu, quer dizer muito aproximadamente como eu, é como se fosse um nacional do meu país, que é o dele. Somos assim muito próximos. Digo o mesmo em relação a um etíope ou a um sueco. Já um português que gosta de fado, de tourada, de procissões, de arrotar em público e de peixe cozido, como já adivinharam, não tem nada a ver comigo. É como se fosse um espanhol verdadeiro, daqueles de quem ninguém suspeita de alguma vez querer vir a ser português.


O meu nacionalismo é tão detestável como o peixe cozido que eu detesto. O Messi é melhor pessoa do que o Ronaldo. Não sei se são ambos detestadores de peixe cozido e de gravatas. Mas sei que o primeiro não cospe para as câmaras de televisão, goste ou não de gravatas e de peixe cozido. E jogam ambos muito bem. O génio daqueles pés só está na cabeça de alguns. Mas, às vezes, só em parte dela.


Mas do que eu queria falar era sobre uma corda, ou fita, ou laço, ou guita, ou lenço, ou uma coisa muito parecida com uma...gravata. Eu não tenho vocação para Egas Moniz, aquele do tempo do rei Afonso que bateu a mãe em São Mamede que, como todos sabem, é aquele santo que não gosta mesmo nada de peixe cozido e de gravatas. Nem do outro que ganhou um Nobel por ter descoberto que, se retirássemos um pouquinho de um cérebro de algum que não tem conserto como aqueles relógios que só servem para nós pensarmos que eles já foram relógios, resolvia o problema intrincado, uma lobotomia, vejam lá!, a ideia da lobotomia em 1949 ganhou um Nobel, muito antes do Jack Nickolson ter pespegado com aquela cara de cromo, ou de parvo, no filme que todos viram. Não sei se o Egas Moniz da lobotomia e o Jack Nickolson do filme gostavam de gravatas mas se não gostavam são como aquele chinês que é como se fosse meu compatriota, também, é claro!, porque ele não gosta de fado, nem de touradas, nem de... gravatas! Nem de cuspir ruidosamente para o chão como os outros milhões que vivem lá ao lado dele e não se sentem nada portugueses, para além de terem a forma dos olhos muito pouco arrendondada, e de pertencerem a essa coisa bizarra que era o Império do Meio, ainda sem carros mas também sem o Mao-tsé-Tung.


Essa corda, ou fita, ou gravata que eu odeio persegue-me desde o dia em que eu, para aí com doze anos, disse, em voz alta, num momento de solidão, que nunca na vida iria apertar o meu pescoço com aquela idiotice, idiossincraticamente designadora de bem vestir, ou de aprumo (não confundir como o outro dos pedreiros, o fio-de-prumo, os quais quando estão a trabalhar numa obra nunca usam gravatas, só quando vão a casamentos naqueles fatos todos dignos e oficiais, que costumam ser a farda masculina nos ditos) ou de dar o toque de parecer boa figura, ou de fazer boa figura e que, sem ele, perde todo o traço de civilidade e de compostura tão essencial nos já tão enfastiadamante falados.


A única coisa boa nos casamentos é de que nunca há peixe cozido e, aí, encontro um fortíssimo ponto de apoio aos ditos, mas, como disse Churchill, "Um mundo sem peixe cozido é o pior dos mundos, à excepção de todos os outros".


Pronto, não sei se já disse, desculpem se houver uma repetição ou outra mas não gosto mesmo nada de peixe cozido e de gravatas. Um, pelo cheiro nauseabundo e pelo aspecto; a outra, porque não gosto mesmo nada de passar o dia a pensar que sou eu próprio que me estou a asfixiar, como quando Kafka construiu aquele gafanhoto enorme que parecia dinossáurico e afinal era só um dos seus heterónimos. Por falar disso Pessoa gostava daqueles lacinhos, tão patente naquela fotografia numa rua lisboeta em que, atarefado com algum mental poema, ele não estaria certamente a pensar em gravatas e em peixe cozido.


Mas, afinal, quem é que pensa em gravatas e peixe cozido?


Só os tontos.