quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Goa, verão de 2016... -XXIX-



Perto das Cataratas de Dudhsagar, em Castle Rock.

Goa, verão de 2016... -XXVIII-

A poluição sonora, a visual e a odorífera são um verdadeiro problema em quase todos os países muito populosos e onde a noção de bem comum não existe ou quase.
As autoridades de Goa, o Estado mais rico da Índia, estão a fazer um esforço no sentido de que as ruas, as praças, os jardins, as estradas, os (poucos) passeios, os rios, o mar, os lagos, as praias e os campos tenham um aspecto bonito e agradável. Mas a tarefa, vista em cartazes, no autocarros, nas tvs, é titânica.
Na Índia (Goa...) o que se parte, fica, o que se rompe, fica, o que se estraga, fica, o que não presta, fica, o que já morreu, fica, o que começou a ser arranjado, fica, o que se suja, fica.
Num mesmo pedaço de rua de uma cidade encontra-se uma valeta imunda mesmo junto a um Cinema Triplex, uma loja supermoderna com portas de vidro e consequente a/c ao lado de um depósito de produtos que parecem ter mais de 40 anos e que estão arrumados como se uma miúda irrequieta de sete anos se tivesse divertido a chatear a sua avó, fazendo pilhas instáveis de caixas amolgadas em prateleiras que a todo o momento podem cair. Mas não caem.
As Índias da grande Índia, onde o inglês é a única língua que pode unir as suas 22 línguas oficiais, não contando as larguíssimas dezenas de dialetos e subdialetos, com 15 alfabetos diferentes inscritos nas notas do sempre presente (mas pouco seguido) Gandhi, é um mistério caótico que funciona para a incredulidade de olhos ocidentais
(a Austrália e a Nova Zelândia também são "ocidentais"?...).
 
No trânsito "Horn, please" não é um lamento, é uma ordem. As passadeiras servem só para decorar os pavimentos, os sinais podem lá estar mas ou já ferrugentos, ou tombados ou inúteis, enfeitam o movimento.
As vacas ruminam nas estradas, nas ruas e nas praias e a  antipatia parece mútua mas respeitosa (pelo menos para os hindus; as outras superstições encolhem os ombros...)

 
Os dejectos dos cães miseráveis que vagueiam com o ar mais triste do mundo (ainda que com sorte, dado que o mundo vegetariano come poucos animais e os canídeos estão a salvo) são caganitas de cabra ao pé dos bolos espapaçados das olímpicas sagradas.
E é esta festa permanente, uma deriva tumultuosa entre a modernidade mais avançada (a Índia é uma potência nuclear e o seu bilião de habitantes vai contar mais no futuro, ainda que as vizinhanças sejam sempre inspecionadas (a China olha para a Índia que olha para o Paquistão que olha para os dois ao mesmo tempo)) e a antiguidade mais extremada.
Os foguetões coabitam ainda com o arado de madeira e a grande maioria da população não tem ainda saneamento básico.
Mas o charme profundo da Índia é esta  mescla de identidades claras e obscuras.
No bairro das Fontainhas em Panjim, a capital desde o séc.XIX.

O bilião crescente por todo o lado, aqui em Panjim (Paniji em konkani, língua oficial de Goa)...

Boa fonte de informações diária, com esta 1ª página direcionada para as faixas de população mais "modernas"...

Casa rica na estrada que vai de Panjim até ao mar, a poucos km.
A estrada e a casa no meio de coqueiros luzídios pela chuva...







Nas Fontainhas...
 

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Goa, verão de 2016... -XXVII-

Os indianos, goeses ou não, foram sempre simpáticos connosco.
A maior curiosidade foi sentir a curiosidade que nós provocávamos neles.
Muitas vezes nós é que nos sentimos, sentíamos exóticos. E muito especialmente quando nos pediam, isto é, pediam à Rosa, qual estrela de cinema, loura, branca e atraente, para tirarem fotos com ela (às vezes também com a ajuda da minha barriga...).
Riam, um pedia e apareciam logo mais um e mais um e até mais outros.
Uma vez foi uma menina que pediu para ser fotografada com os pais e o mano. Noutras, os naturais das Índias agradeciam ao... "macho"...
(não vi na altura a subtileza da mão direita do senhor que foi um dos que me...agradeceu...)
 
Num momento verdadeiramente incrível dois homens pararam-nos, pentearam-se e pediram para lhes tirarmos uma foto. Sorriram, agradecemo-nos mutuamente e seguiram caminho.
Nunca tinha visto e vivido tamanhos minutos. Foi especial.

Goa, verão de 2016... -XXVI-









Aqui algumas faces de um país cheio de caras, uniformes na cor mas naturalmente diferentes...

sábado, 27 de agosto de 2016

Goa, verão de 2016.... -XXV-

Por toda a parte se vêem vendedores e compradores (simbiose que se alimenta). A sensação é que metade vende à outra metade e depois trocam.
O comércio de rua é intensíssimo e o das lojas e mercados não o é menos.
Tudo se vende.
A produção é esmagadoramente made in India. Do açúcar às roupas, das marcas às imitações.
Neste cap. XXV aparecerão fotos dessa mercantilidade.
Das lojas do séc. XXI às tendas da Idade Média. Todos os matizes lado a lado. Da desordem mais profunda à climatização mais moderna.
O espanto nunca nos deixa quando caminhamos pelas ruas.
As pessoas envolvidas manifestam, quase sempre, simpatia. E olham os exóticos que somos. "Mas o que fazem eles aqui?"


 

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Goa, verão de 2016... -XXIV-

De facto, a net foi um problema nestas férias especiais. Bem procurei mas foi difícil. A noção, e a sua aplicação, de café internet ainda não chegou a esta parte da Índia. Lá chegarão.
 
Já em Portugal depois de mais de 11 horas de voos (1h de Goa para Bombaim; 6 horas de Bombaim para Istambul e 4h de lá até Lisboa), sem contar com as escalas mais ou menos prolongadas, o sol seco substituiu o sol abafado e húmido das últimas quatro semanas. Foram dias bastante mais diferentes daqueles que sempre são vividos quando mergulhamos de cabeça numa realidade e num mundo que estão muito longe do nosso viver de todos os dias.
 
Tentarei explicar isto nesta ideia de falar das férias que tive e de como as vivi.





 

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Goa, verão de 2016... -XXIII-

Muitos dias sem net, as ligações aqui ou não se conseguem ou são desesperadamente lentas.
Procurámos, procurámos e os únicos internet cafés que descobrimos não têm....internet!!!!!!! Gostam do novo mas ainda vai demorar a cá chegar a banda larga que no entanto está anunciada por toda a parte (3G e 4G).
Goa está ainda muito mal coberta, mesmo considerando que estamos em Margão, a 2ª cidade do pequeno Estado, a verdadeira capital económica e cultural.
Hoje voltámos à praia de Colva, a alguns quilómetros de Margão, cidade onde decidimos ficar até ao fim, por estarmos num hotel bastante bom (mas....quase sem net!) e termos muitos autocarros, tuk-tuks e táxis à disposição.
Enquanto a Rosa se banhou prudentemente (bandeira vermelha mas com lifeguards em todas as praias, mesmo não sendo a estação dos banhos), eu fiquei numa esplanada, bebendo cerveja, comendo chicken biryani -quando ela chegou das águas quentes mas traiçoeiras- e ouvindo música má e muito alto. Os indianos põem tudo muito alto (televisão, autocarros, barcos...) e perguntamo-nos se não têm esse sentido bastante danificado...
A condução é feita ao som da música disforme de uma orquestra de surdos endiabrados...

Há 3 dias fomos ao Cabo de Rama num táxi. A paisagem é linda e o forte, construção anterior à chegada dos lusos, ainda olhando o mar, nesta altura do ano, manhoso.
O Forte é um pouco como a Índia, cheia de contrastes.


quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Goa, verão de 2016... -XXII-













terça-feira, 9 de agosto de 2016

Goa, verão de 2016... -XXI-

"Portugal é um país do 3º mundo"
"Só neste país!"
"É o país que temos." (esta, a campeã da idiotice porque a pessoa que fala não pertence ao país a que diz pertencer!)


As mulheres mais velhas, mais novas e as jovens circulam em quantidade nas scooters e lambretas um pouco por todo o lado, aqui em Pangim.
Vestem-se com saris tradicionais, às vezes, mas a maior parte usa umas turkas (camisas até ao joelho) e umas calças por baixo. Outras mais novas vestem-se à ocidental. Contudo, não se vêem mulheres com saias ou vestidos que mostrem as pernas.
(Não se vêem homens e mulheres de mão dada mas quanto aos homens sim).
Quanto aos lenços, as mulheres indianas podem cobrir os cabelos com parte do tecido do sari mas não parece ser norma. As mulheres muçulmanas usam sempre lenço a cobrir o cabelo e deixando só visível a cara. Também se vêem algumas só com os olhos à mostra -vimos muitas no aeroporto de Bombaim, talvez por ser uma zona de passagem/ligação com o Próximo Oriente.

A Índia não é um país fácil (e o que é que quer dizer "um país fácil"?).
A Ásia do Pacífico (China, Japão, Coreia, Vietname...) tem pontos de confluência com a Ásia do Índico mas é outra (muitas outras) realidade(s).
O Afeganistão e o Paquistão (literalmente "o país dos puros") e que é o arqui-inimigo da Índia desde a divisão a seguir à capitulação inglesa, em 1947. E é ferozmente muçulmano.
O Irão é persa e é maioritariamente xiita. E vive num mundo muito próprio.
O Médio Oriente e o Norte de África são uma caldeirada de sunismos rivais e pouco ou nada confluentes.
Israel é Israel e será sábio quando souber (?) viver neste vulcão por vezes terrífico.

E a Índia? A Índia é a multiplicação de imensos antigos estados com línguas, variantes religiosas e mesmo étnicas (os punjabes do norte têm muito pouco a ver com os tamiles do sul). E muitas, muitas desigualdades, até justificadas pelas religiões.

Aqui, em Goa, todos os goeses que encontramos nos dizem que "Goa não é a Índia!", mas também os que não falam português mas que nos dizem que os avós falam ou falavam o dizem. E sempre com simpatia.
Mas é uma das batalhas finais porque as gerações muito velhas ou mais velhas estão a desaparecer e não parece haver substitutos.
Ficarão os significantes nomes próprios e apelidos, bem como a toponímia e os outdoors do passado... "Barbearia Coimbra"! E isso é muito, muito especial.






domingo, 7 de agosto de 2016

Goa, verão de 2016... -XX-

Cada dia que passa, calmamente, surpresas acontecem todos os dias.
Desde o cocktail de ontem no restaurante Viva Panjin, até às missas de hoje na Igreja da Imaculada Conceição, passando pela conversa com jovens pescadores no rio, à fabulosa descoberta da entrega de prémios de Cálculo Mental (!) a alunos no Instituto Bragança de Menezes, ao encontro com grevistas da fome há 14 dias por 8 meses de salários em atraso, perdidos, cada passo que passa, novas descobertas de um país muito complexo e difícil de entender.
O problema maior da Índia?
1º corrupção;
2º corrupção;
3º corrupção.

Aliado, de pés, mãos, braços e cabeça entrelaçados, ao quase total desinteresse pelo bem comum.
O lixo faz parte (horrível) da vida e a desarrumação é endémica.
Mas existem boas excepções e boas vontades.
Mas como governar um mundo de 1 bilião de pessoas?
O sr. Carlos foi claro: "Goa não é a índia!"





(fotos não editadas)