sexta-feira, 17 de julho de 2015

José Pacheco Pereira, único!

"Talvez por isso surjam as perguntas: poderá a Marmeleira ser, um dia, uma espécie de santuário internacional de peregrinação de estudiosos, académicos, estudantes universitários ou simples turistas culturais? Este tesouro pode visitar-se? Pode um amante de livros folhear o primeiro Estudo Sobre a Radioatividade, de Rutherford, de 1913? Pode um historiador militar pesquisar informações no Diário da Guerra da Guiné, em tudo o que teve a ver com logística, manuscrito a lápis por um oficial operacional? Será possível a um enólogo observar os primeiros rótulos de vinhos impressos em Portugal? Ou a um antropólogo escarafunchar a correspondência amorosa entre uma costureira e um empregado de escritório na Lisboa dos anos 1935 a 1943? Não será interdito a um historiador especializado no século XX verificar um arquivo militar com cartas de pedidos e fazer uma história da cunha em Portugal? E não seria útil a um sociólogo observar as milhares de fotos originais de revoltas sociais em todo o mundo? E que tal um politólogo bisbilhotar as agendas das audiências de um ministro de Salazar, escritas à mão e de páginas cosidas a linha? Desdenharia um geógrafo dar uma olhada à primeira descrição do Estado da Luisiana?... E que tal um cientista político poder consultar os numerosos relatórios do FBI sobre o Partido Comunista norte-americano, que inclui as descrições das reuniões do respetivo comité central? Ou um colecionador livreiro poder aspirar o cheiro do papel do primeiro dicionário Português-Latim, de 1695? Já agora, não poderia um teólogo decifrar os panfletos originais, em holandês, sobre o movimento da Reforma da Igreja? Ou um académico ver com os próprios olhos os papéis da Reforma Pombalina da Universidade, datados de 1753? E um astrónomo, evitaria tocar no original de Astronomia Popular, do século XIX, de Camille Flammarion? E um historiador do período da guerra colonial, quanto não daria para ler os telegramas cifrados e a correspondência ultramarina do ministro Silva Cunha, cujo espólio ali pode encontrar, nomeadamente as cartas trocadas com o governador militar da Guiné, António de Spínola? Ou um jornalista angolano, para consultar os relatórios originais assinados por Agostinho Neto, para o MPLA, em Portugal, no tempo da ditadura, os documentos do golpe Nito Alves e as posições do PCP sobre o assunto? E quanto não apreciaria um ilustrador ou um estilista copiar os desenhos pintados à mão de uma revista francesa de moda do século XIX?..."
Visão, aqui