sábado, 20 de agosto de 2011

Cega-rega


"O senhor camponês, a reclamar. Suado e soturno, a mourejar de manhã à noite, queria silêncio à volta. Tapasse os ouvidos! Nenhuma força humana ou desumana a faria calar. Com que razão? Porquê? Porque a fome era triste, os dias passavam velozes, e urgia ajudar a natureza a ser pródiga? Imaginem! Pois que aproveitasse as horas, os minutos e os segundos, num anseio insaciável de fartura. Ela continuaria ali, preguiçosa, imprevidente, num desafio sonoro à sensatez.
- Muita alegria tem tal bicho!
- A alegria passa-lhe... É deixar vir o inverno...
A pressurosa formiga! A coitada! Como se trabalhar fosse um destino!
- E temo-lo aí, não tarda muito.
Evidentemente. Mas que lhe importava? A escolha estava feita. Que as folhas do calendário, como as das árvores, fossem caindo, e que os ceifeiros lançassem as gadanhas ao trigo maduro, numa condenação de galerianos. Que nas tulhas se acumulassem toneladas de grão. Ao lado dos celeiros atestados, ficaria um celeiro vazio. Um símbolo de inquebrantável confiança.
- Mas em quê? - perguntava um pardal suspicaz.
Outro que não compreendia. Outro que só concebia a existência a saltar de migalha em migalha.
- Chega-lhe, Cega-Rega!
O Poeta! Louvado seja Deus! Até que enfim lhe aparecia um irmão!... Um irmão que sabia também que cantar era acreditar na vida e vencer a morte.
A morte que a espreitava já, com os olhos frios do Outubro..."
Miguel Torga, Bichos, "Cega-rega"

Nolito...

...muitos bons jogadores mas ainda à procura de uma equipa.

Cartazes Políticos LII













Cartazes da Espanha (de Francisco Franco).
Mensagens fortemente icónicas e mobilizadoras.
Clicando podem ver-se com mais pormenor.

"Madeira necessita "urgentemente de liquidez" "

"O dirigente, (Alberto João Jardim) que não passou ao lado da crise financeira, admitiu ainda estar hoje mais à esquerda do que há 30 anos depois de ver como o sistema capitalista se "degradou"."
O mais curial seria este son of a bitch arquitectar uma união política e económica com as Ilhas Malvinas e deixar de "ter razões" para chantagens permanentes.
Num referendo a realizar talvez houvesse(m) significativas surpresas...

Bichos

Morgado
"Mais por adivinhar que por distinguir, Morgado antevira já uns olhos incendiados de fome a espreitá-los do coração da noite. E o patrão decerto os notara também, porque agora pusera-se a petiscar lume num seixo com a folha de aço da navalha. Como se os lobos tivessem medo das pobres faíscas que lhe saíam das mãos trémulas e garanhas! Se apenas dispunha desse recurso, se não trazia no bolso um daqueles pistolos com que nas feiras, quando havia zaragata, os homens se matavam uns aos outros, estavam liquidados. Ali só mesmo um dos tais estoiras medonhos que pareciam trovões e desfaziam os ajuntamentos num suspiro. Ou isso, ou nada. Eram já três vultos que vislumbrava na escuridão, calados, mas resolutos. Ora, em vez de sacar do tal instrumento que, a trinta ou quarenta passos de distância mandava um cristão desta para melhor, o dono, depois do ridículo arraial de pirilampos, chegou-se a ele e, sem mesmo o fazer parar, cortou dum golpe as cordas que seguravam a carga. Os sacos de centeio caíram espapaçados no lajedo.
Que raio de manobra era aquela? Pretenderia o patrão tentar a fuga? Quereria trepar-lhe ao lombo e abrir caminho pela serra fora? Nem mais. Mas uma triste ideia, aliás. Ele, Morgado, já não tinha as pernas da mocidade. Muito embora se considerasse ainda um animal capaz de cumprir o seu dever, não lhe pedissem semelhante bonito, depois de três horas de jornada, mal dormido e mal comido, e, ainda por cima, num caminho de pedras e com uma alcateia à ilharga. Tudo tem os seus limites. Além de que um macho não é bicho de correrias. Isso é lá com pilecas de ciganos."
Miguel Torga, Bichos, Morgado

O 'EDUQUÊS' EM DISCURSO DIRECTO

A ler e a reler. Mais actual do que nunca.
Sinto uma enorme simpatia porque há muito tempo que minorias ultra-minoritárias têm vindo a denunciar as políticas educativas dominantes nas últimas décadas.
O grande receio é de que o poder instalado, "a gigantesca máquina burrocrata", venha a contra-atacar em força, ainda que de forma hipócrita e falsa.