quinta-feira, 29 de setembro de 2011

"A Madeira é a nossa Grécia"

"O espectáculo da campanha para as regionais na Madeira é mau demais para ser verdade. Mas é a pura das realidades. Não há manipulação da comunicação social, imagens falsificadas, frases truncadas, golpes baixos com câmaras ocultas e outras artistices. Nada. É tudo verdade, é tudo democracia. (...) As autonomias, os poderes locais, as concertações sociais, os inúmeros salamaleques democráticos não enchem as barrigas, não dão trabalho, não criam riqueza; só dão despesa, e que despesa. Esta campanha eleitoral está marcada pela dívida da região, um mistério que Passos Coelho já lamenta ter prometido divulgar até final do mês. O primeiro-ministro, manifestamente um homem sincero, confessou ontem, no inútil debate quinzenal na Assembleia da República, que tinha falado demais sobre o assunto quando vieram a público mais uns buracos cuidadosamente escondidos por Alberto João Jardim, com a generosa cumplicidade de muita gente que ama a democracia e ama ainda mais o dinheiro sacado aos contribuintes. O escândalo estalou, correu mundo e o governo não teve outro remédio se não falar grosso com o madeirense e prometer o tal relatório completo sobre a dimensão do deboche financeiro da querida região autónoma que os portugueses pagam a pão-de-ló. Dito e feito, como é normal, a campanha eleitoral tem andado à volta do buraco, com a oposição a malhar forte em Jardim e Alberto João, no seu estilo habitual, a desafiar o continente e os cubanos. O homem é desbocado, mas é bom ter alguma atenção aos avisos e ameaças que chegam todos os dias do Funchal. O governo vai apresentar amanhã o tal relatório. Tudo bem. Espera-se que esteja lá tudo, sem erros ou omissões. O pior vem a seguir. Como João Jardim deve ganhar de novo as eleições com maioria absoluta, o tratamento da dívida vai ter de ser discutido com o senhor. E aí – como já se viu no passado com governos do PS e PSD, tanto faz – é que a porca costuma torcer o rabo. Jardim já disse que só toma os remédios que quiser e não aceita imposições de Lisboa. Acontece que as mãos que abrem ou fecham as torneiras do euro estão em S. Bento e no Terreiro do Paço, não estão na Quinta da Vigia. Quer isto dizer que Passos Coelho e Vítor Gaspar não têm desculpa se não puserem a região na ordem, com os inevitáveis custos para os madeirenses. Não há insularidade que justifique os privilégios e os desmandos das autonomias e das suas classes políticas. Não há conversas bonitas sobre a coesão nacional que sirvam de pretexto para laxismos na hora de pôr na ordem o governo regional e as contas da Madeira. Por cá, pelo continente, ninguém anda preocupado com os brutais aumentos de impostos aos portugueses. Por cá, a desbunda do estado, social ou não, é paga e bem paga por todos os que ainda mexem, isto é, que ainda têm salário ou pensão ao fim do mês. Na Madeira, não pode ser diferente. E, já agora, não se pode acabar com a fantochada autonómica?"
http://www.ionline.pt/opiniao/veremos-se-madeira-nao-vai-parir-rato

Caravaggio

David-with-the-Head-of-Goliath