domingo, 10 de julho de 2011

A Lei do Mal é a Lei da Fealdade

"A conclusão de Hannah Arendt é para mim, portanto, brilhante. Hitler e Goebbels conseguiram convencer os nazis e - pior - o povo alemão de que ninguém era culpado por nada, mas a tal "Providência" os havia colocado naquela situação sem volta, o beco sem saída do destino triunfal ariano e anti-semita, que o Führer chamava de busca do "espaço vital" (Lebensraum) pangermânico. Era este o Éden que prometia aos alemães: a colonização de toda a Europa, sem compaixão, escrúpulos ou culpa, e com todos os benefícios espúrios (e despojos) advindos da eliminação "pura" e simples de todas as populações concorrentes. Era esta a visão hitlerista do darwinismo. Por isso fica difícil "romantizar" a questão da participação colectiva dos alemães nessa empreitada fatídica, como se tivessem sido todos enganados por um único estelionatário carismático. Tanto os jovens soldados que morreram nos campos de batalha, como o povo que padecia e sucumbia aos constantes bombardeios aliados na segunda metade da guerra, realmente acreditavam nas ideias fascistas de seu Führer, e mesmo nos estertores do regime, ainda esperavam que a "sorte" (ou "Providência") que tanto auxiliara Hitler na sua ascensão ao poder e no início do conflito, reapareceria como que num passe de mágica, dando-lhes tempo para reagrupar as forças e eles continuariam lutando pelos mesmos objetivos racistas e totalitários que por pouco não os havia dizimado. Se havia descontentamento contra Hitler no final da guerra, era muito mais pelo custo humano que ela causava e pela evidente (e vergonhosa, para o espírito belicista alemão) impossibilidade de vitória, do que propriamente por discordância das ideias nefastas do Führer."

A Lei do Mal é a Lei da Fealdade

Mesmo no fim da leitura, uma (mais) análise interessante sobre o livro e sobre o nazismo, aqui.
(só alterei a irritante brasiologia)
"Os objectivos do Estado alemão eram os objectivos de Hitler, o totalitarismo personificado que determinava a seu bel prazer os destinos de corações e mentes do país. É claro que houve uma tímida oposição à barbárie instalada no país, mas os adversários eram sumariamente eliminados ou presos. O fanatismo era a regra que contaminou praticamente toda a população alemã. A “Providência” revelou-se ainda nas muitas oportunidades que houve para assassinar Hitler, única alternativa que restava aos poucos militantes contrários. Em todas as tentativas (a maioria não chegou a ser descoberta), sempre houve algum empecilho ou imprevisto de última hora que impossibilitou a consumação do atentado. O último deles, a famosa Operação Valquíria, conseguiu explodir uma bomba na Toca do Lobo em 20 de julho de 1944, mas Hitler escapou com apenas alguns arranhões, o que serviu para reforçar nele este apreço desmedido à tal “Providência” (leia-se: a sua própria vontade) que o protegia e o destinava a um triunfo final glorioso. Ele  sentia-se o "iluminado" e as circunstâncias externas apenas confirmavam (e reforçavam) a sua auto-imagem macabra. Por isso, não havia o que tergiversar: para o Führer era tudo ou nada, preto ou branco, mesmo que milhões de alemães (e dezenas de milhões de outros povos) morressem inutilmente durante este percurso trágico. O destino de todos, ainda que imaginário e individualmente pensado, já estava traçado na cabeça de Hitler. Talvez outro tipo de "Providência" tenha se revelado, entretanto, quando o Führer abortou o programa nuclear antes do começo da guerra, e tenha interferido tanto nos projectos do avião a jacto e das bombas voadoras (V1 e V2) que eles sofreram um brutal atraso que só os tornou viáveis no fim do conflito e - pior para os alemães - quando não havia nem combustível suficiente para fazê-los voar. Tarde demais para o Terceiro Reich."

A Lei do Mal



Revisto há dois dias, sem oblívio.

Chapim-de-poupa

Quando eu morrer gostaria que submergir num mar de beleza.