quinta-feira, 2 de julho de 2020

Suum Cuique Tribuere... Modigliani

"Artista principalmente figurativo, tornou-se célebre sobretudo por seus retratos femininos caracterizados por rostos e pescoços alongados, à maneira das máscaras africanas.
Morreu aos trinta e cinco anos, em condições de extrema pobreza material, vítima de meningite tuberculosa, agravada pelo excesso de trabalho, álcool e drogas."
Auto-retrato pouco antes de morrer.

Livingstone e a audácia compacta

O que poderá haver entre mim e ele? 
Nada. Só que ele morreu aos 60 anos e eu tenho 61...
De resto, eu sou nada, ele foi um desertor do ordinário, um 
extraordinário indivíduo.  

Homem do século XIX (1813-1873) foi um missionário, primeiro, e explorador, depois, escocês que ficou conhecido e famoso por ter sido um dos primeiros europeus a aventurar-se na imensidão das florestas, dos rios e perigos da África equatorial e dos desertos mais a Sul. 
Tem hoje uma estátua na margem do., no Quénia 🇰🇪, estátua de um homem branco no universo africano, o que não deixa de ser irónico, nesta época de reescrita da História, como se derrubar estátuas refizesse, muito, pouco ou nada, o que quer que fosse. Talvez outra junto à do General Lee (mito de pedra dos segrecionistas sulistas norte-americanos, passados e actuais), ou um Museu que ajude a interpretar esta face visível do racismo e pseudo-superioridade dos pigmentos deslavados. Ou
outra estátua de um contemporâneo lutador contra a opressão. 
Filho do trabalho infantil e da revolução industrial, começou como operário fabril aos 10 anos e, chamado pelos apelos da Igreja Presbiteriana (não por acaso, a prevalecente na sua Escócia natal) para a evangelização da China (o que o mundo mudou em 200 anos...), quis e tornou-se missionário médico, depois de ter estudado grego, teologia e medicina (desconheço a ordem, se é que existiu ou foi relevante), na sua Glasgow. 
Em 1841 chega a África e entra nela por uma das portas mais inóspitas e, literalmente, áridas: à beira do deserto do Kalahari, na África Austral. Em 1845, casou-se com Mary Moffat, que era a filha de um colega missionário, vá se lá saber porquê, não-católico... 
Na sua fé religiosa a evangelização vestiu-se do fascínio de chegar e converter ao cristianismo povos que nunca tinham contactado com ele. 
Nesta sua luta, física e mental, e coerente com as suas crenças, tornou-se apologista e lutador para acabar com a escravidão Com 8 anos em territórios africanos, de 1849 a1851, viajou por todo o deserto do Kalahari, na sua segunda visita ao rio Zambeze. Em 1842 já tinha participado numa expedição de quatro anos para encontrar um caminho que fizesse a ligação do Alto Zambeze à costa oriental. 
Todas estas explorações aumentaram imenso o conhecimento ocidental sobre a África central e do sul. Livingstone, em 1855, descobriu uma espectacular cascata a que deu o nome de Cataratas Vitória (Victoria Falls). Um ano depois chegou à foz do Rio Zambeze no Oceano Índico, em Maio de 1856. 
Passava a ser o primeiro europeu, ou o primeiro homem a atravessar a toda a largura da África meridional. 
Ao todo, terá percorrido quase meia centena de milhar de quilómetros (48 000 Km) em terras africanas. 
Nesta missão de mais de 15 anos, atravessou por duas vezes o deserto do Kalahari, navegou o rio Zambeze de Angola até Moçambique, procurou as nascentes do rio Nilo, descobriu as cataratas Vitória e foi o primeiro europeu a cruzar o lago Tanganica. 
Percorreu o Uganda, a Tanzânia e o Quénia. Andava a pé, em carros de boi e em canoas. Nas aldeias, tratava dos doentes, conquistando assim a amizade e a ooperação dos autóctones.

(Continua)