sábado, 2 de abril de 2022

Povo que lavas no rio

Povo que lavas no rio

Que talhas com teu machado
As tábuas do meu caixão
Povo que lavas no rio
Que talhas com teu machado
As tábuas do meu caixão
Há-de haver quem te defenda
Que compre o teu chão sagrado
Mas a tua vida não
Fui ter à mesa redonda
Beber em malga que esconda
Um beijo de mão em mão
Fui ter à mesa redonda
Beber em malga que esconda
Um beijo de mão em mão
Era o vinho que me deste
Água pura, fruto agreste
Mas a tua vida não
Aromas de urze e de lama
Dormi com eles na cama
Tive a mesma condição
Aromas de urze e de lama
Dormi com eles na cama
Tive a mesma condição
Povo, povo eu te pertenço
Deste-me alturas de incenso
Mas a tua vida não
Ai, povo que lavas no rio
Que talhas com teu machado
As tábuas do meu caixão
Povo que lavas no rio
Que talhas com teu machado
As tábuas do meu caixão
Há-de haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tua vida não

Pedro Homem de Melo

Fado do (meu) fado..

Sabe-se que as excepções confirmam, quase sempre, as regras às quais estão ligadas.

O que é fabuloso pode ser absolutamente insuportável, que por sua vez pode ser fabuloso para logo outro que é penoso para outro, outro e ainda outro. 

Só estou a falar das excepções. 

Não, da panóplia de gosto um bocadinho até ao gosto desmesuradamente. Sem esquecer o gosto/não gosto límpido. Estes não possuem excepções.

Aí vai: eu detesto o Fado. Por tudo. Pela forma de cantar, pelo género único (?) que representa, pelas variantes sonoras que se entroncam na arquitectura da música, pela postura do intérprete, pelo (quase) fado de ter de se gostar de Fado, sendo português. "O Fado faz parte da alma lusitana" revolve-me as entranhas e é nesses momentos que me sinto cidadão de outro país, muitas vezes, bem espanhol. Ou argentino e mergulho-me no belo Tango sul-americano.

Com o Carlos Paredes excelsamente acompanhado por Astor Piazzola .

Para estes não há excepções, para mim.

Detesto o Fado. A minha excepção vai para dois Fados de Amália Rodrigues. Estranha Forma de Vida e Povo Que Lavas No Rio.  A voz, o sentimento. a claridade, a profundidade, a excepcionalidade, são osmoticamente perfeitos. E eu gosto. Até muito.

Claro que ninguém se interessa por estas minhas opiniões mas é mesmo por isso que tenho este irregularmente alimentado blogue. Para me reinventar, se isso fosse possível, num balanço de vida a ser feito, fazendo.

Para que a regra seja mesmo a regra, o músico (autor, cantor, compositor) português que é o meu Mais Adorado, José Mário Branco, compôs e cantou dois Fados de sua autoria. Exactamente as únicas canções/músicas que, cada vez que o volto e revolvo a ouvir,  passo à seguinte.