sexta-feira, 10 de julho de 2020

Rui Tavares na mouche de Rita Rato

Está lá tudo no escrito de Rui Tavares:Cultura-Ípsilo

OPINIÃO

O único problema de Rita Rato

É de Rita Rato que é preciso perceber de uma vez por todas se nega ou reconhece a realidade histórica do Gulag como repressão em massa de milhões de seres humanos, se a condena ou não, e se se arrepende ou não das suas declarações passadas sobre o assunto.
Não, caros colegas historiadores, o problema com Rita Rato ter vencido o processo de recrutamento para dirigir o Museu do Aljube não é ela não ser historiadora nem museóloga. O que não falta por aí são excelentes diretores de museu, programadores culturais e gestores públicos que não são uma coisa nem a outra. Pode haver vantagem em ter um museu dirigido por quem tenha investigado o tema — que, já agora, não tem de ser forçosamente de história contemporânea: vai fazer em breve 450 anos de quando Damião de Góis esteve ali preso —, como pode haver vantagem em ser alguém de fora do meio historiográfico a fazê-lo. Tudo depende do projeto para o museu que tenha quem se candidata, e da avaliação de quem escolhe os candidatos.
Não, caros concidadãos de direita, o problema de Rita Rato não é certamente ser do PCP. Não vale a pena fazer a lista de tantos e tantas militantes do PCP — partido fundador do nosso regime constitucional democrático — que souberam gerir com competência e imparcialidade instituições públicas. Essa lista seria longa. O que valeria talvez a pena seria perguntarmo-nos por que raio assumimos com tanta naturalidade a nomeação de gente do CDS, por exemplo, para conselhos de administração de empresas públicas, e agora faríamos um escândalo por uma candidata oriunda do PCP ter sido escolhida. A não ser que Rita Rato viesse a demonstrar querer hegemonizar a história da prisão do Aljube ou apagar a memória de todas as outras correntes ideológicas, de anarquistas a monárquicos, que por lá passaram, era só o que mais faltava se houvesse uma barragem política a que alguém do PCP exercesse um cargo deste tipo.
E não, o problema de Rita Rato não é ter sido política. Se alguém pensa que a vida de um ex-político fica mais facilitada numa prova deste género, está bem enganado. Quando chega à altura da entrevista final, o empregador que quer sossego e distância de polémicas vai pensar duas vezes antes de se decidir por alguém que vai gerar falatório garantido, e os jurados que não são da persuasão política da candidata vão precisar de ver uma dose extra de qualidade para se deixarem convencer.
Em resumo e até aqui, não vejo problema em Rita Rato ser diretora do Museu do Ajube: houve um processo de recrutamento aberto em vez de uma indicação direta e se Rita Rato o ganhou entre dezenas de candidatos é porque demonstrou méritos para exercer o cargo ao qual se candidatou — o que até nem surpreende quem, sendo de um partido e de uma família ideológica bem distinta, e não a tendo nunca conhecido pessoalmente, seguiu a trajetória de Rita Rato.

Não; o problema de Rita Rato é outro — e pode mesmo ser insuperável. Não creio que Lisboa enquanto cidade, e o Museu do Aljube enquanto espaço de memória da resistência política em particular, possa conviver com uma diretora que tenha tido declarações que possam parecer como minimizando realidades historicamente comprovadas e de magnitude inescapável da repressão política no século XX.
Refiro-me, como é evidente, à entrevista de 2009 em que Rita Rato se referia ao Gulag como “uma experiência” que “admitia” que “pudesse ter acontecido”. Desde então já ouvi muitas explicações e interpretações para essas palavras: que Rita Rato era jovem; que deu uma resposta “política”; que era inexperiente na relação com a imprensa. Mas crucialmente todas essas explicações e interpretações são dadas por terceiros. Ora, Rita Rato não era então, e não o é de todo hoje, uma pessoa que precise que falem por ela. É de Rita Rato que é preciso perceber de uma vez por todas se nega ou reconhece a realidade histórica do Gulag como repressão em massa de milhões de seres humanos, se a condena ou não, e se se arrepende ou não das suas declarações passadas sobre o assunto.
É nestes momentos que importa fazer aquele exercício tão incomum no debate público: e se fosse ao contrário? E se houvesse algum político à direita que “admitisse” que os campos de extermínio fossem “uma experiência” que “pudesse ter existido”. Como reagiria a esquerda se, anos depois, e com essas declarações ainda mantidas na ambiguidade, para dizer o mínimo, a pessoa que as fez fosse escolhida para dirigir um museu que é um lugar de memória da repressão política? Bem, pelo menos eu sei como reagiria, e tento não me esquecer da indignação que sentiria nesse caso hipotético, agora que discutimos o caso real de Rita Rato.
A verdade é que um museu da resistência à repressão política com uma diretora que se permitisse não esclarecer declarações suas que podem ser vistas como minimizando a repressão política quando esta é feita em nome da sua ideologia (o que, em meu entender, até deveria levar a uma condenação mais forte) não seria um museu que se pudesse levar a sério. 
É claro que se pode ser uma pessoa que negue ou minimize a realidade histórica do Gulag. Ou pode ser-se uma diretora do Museu do Aljube que dignifique a instituição. Mas não se pode ser as duas coisas. É agora a Rita Rato que compete escolher e assim esclarecer o mais depressa possível se será para a cidade de Lisboa e para o Museu do Aljube uma mais-valia — ou uma mancha.

Heráclito nasceu em Éfeso (II)

Voltando a Éfeso
, ainda não tínhamos ido às montanhas brancas de Pamukkale e às suas piscinas carbonadas. A Capadócia bem mais distante esperava, sossegada.
(Ao que parece, bem menos nestes anos antes da pandemia)
Lembro-me do Cavalo de Tróia, cavalo de madeira real e o "verdadeiro" para quem quisesse acreditar,
 e quase toda a gente precisa de acreditar, seja numa madeira imputrescível, seja na magia dos pães, peixes ou águas impenetráveis
(No Mar Morto - o mergulho mais abacalhauzado que tive! - a imaginação aditada ao sal radical pôde fazer maravilhas e... "milagres"...).
A que não subimos por pudor (remexer nas entranhas...), medo (e se as térmitas o tivessem armadilhado?...) e proibição (não sei como se diz em turco "tenham juízo"...).
Mas tudo na Via que levava ao tesouro de Éfeso, o Teatro,

 que outrora teria acolhido 25 mil pessoas, era real:

E o êxtase face à obra humana só era comparável ao êxtase face à maravilha daquelas montanhas brancas, erigidas tectonicamente em socalcos de água morna, onde nos banhámos. Longe da beleza dos socalcos verdes do arroz vietnamita mas imensamente intrínseco naquela beleza incomum.
Era um final de tarde em Pamukkale

e existiu uma nirvanazinha portátil em cada um de nós.

{As fotografias não são minhas. Em 1982 não havia máquinas fotográficas digitais. Tenho várias analógicas, algumas bem bonitas e que um dia destes passarei para digital...}
               (continua) 

As minhas circunstâncias... José Gomes Ferreira

José Gomes Ferreira. Aqui
Aprendi com ele, nas muitas circunstâncias em que o li e reli, a brincar com a leveza das palavras, índias dos seus segredos, lapidares na sua transparência. "O mundo dos Outros" foi meu viajante assíduo.
Já não o leio hoje como o lia aos 25 anos ( nenhum livro se relê da mesma maneira) mas encantou-me mais do que o José Cardoso Pires.
Grandes escritores, com mais relevo talvez o segundo, com estilos bem vincados.

Alemanha: aprender com quem é melhor

"Germany’s culture of dual educational and vocational training programmes has never been short of admirers, including British education secretaries of the present and the past, the Chinese communist party and the daughter of the current US president. 
Its advantages are hard to ignore: around half of each year group in Germany do not go on to complete a university degree bbut a three-year apprenticeship with a company, of which they spent about 50% learning “on the job” and 50% at a vocational training school.
The 325 recognised dual training occupations are wide-ranging, including carers for the elderly, bakers, booksellers, architectural draughtsmen or bow makers.
Through the mix of practical and theory-based learning, trainees acquire skills that tend to be well matched to the needs of employers and can be plugged into businesses with relative ease: before the onset of the Covid-19 pandemic, youth unemployment in Germany hit a record low of 5.6%."
The Guardian Aqui