quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Goa, verão de 2016... -XV-

Dona Paula, a 10 km de Pangim
Dona Paula teria sido a filha de um vice-rei, que teria sido prometida em casamento com um pescador local e que se teria atirado de um pequeno penhasco em sinal de rejeição. Deu o nome a uma parte dos arredores de Pangim.
                                                                                        Pangim                                                      
Cada país é como uma matrioska (cada pessoa também): cada uma é parte de outra que é parte de outra e de outra até à infinidade. Cada última matrioska é a penúltima da próxima.
Cada pessoa não é só uma pessoa; quem o crê lê o mundo de forma muito arcaica, feliz ou não, pouco importa agora.
O que mais me repugna no racismo é este ódio cristalizado em preconceitos abstratos.
O racista já sabe que não ama, que não respeita, que não quer fazer esforço por compreender o que não é comum.
O xenófobo já sabe que tudo o que é diferente, complexo, ambivalente,
colorido, é mau e é incomparável face à magnitude da sua auto-suficiência.
O racista é a face esquerda do xenófobo que é a sua face direita.
Sim, infelizmente, sou racista: sou racista para com os racistas.
Sim, infelizmente, sou xenófobo: sou xenófobo para com os xenófobos.
Miseravelmente, sou estas duas metades de mim. E outras partes...

Goa, verão de 2016... -XIV-

Anteontem tivemos a mais incrível experiência desde que viajamos.
Fizemos um circuito turístico, no qual só nós é que éramos estrangeiros, pela foz do rio Mandovi. Íamos tirando fotografias e vários indianos iam....dançando com uma música ALTÍSSIMA! Tudo bem. Os nossos ouvidos foram duramente tratados mas paciência.
Quando saíamos, com uma amaragem à antiga com o barco a "enterrar-se" diretamente na areia, um grupo de 4 rapazes pediu-nos se nós deixávamos que eles tirassem fotos connosco, as brancas aves raras ali. Ficámos surpresos mas ainda mais quando outros e outros e até um casal que ia à nossa frente também nos pediu. Eles queriam fotos com seres exóticos! Nós!

Não sei se é o síndroma do Michael Jackson ou outra coisa. Mas ontem quando estávamos a ver televisão todas as personagens que apareciam em telenovelas, vídeoclips, anúncios, apresentadores, eram... o que há de indiano mais branco possível, quase como se estivessem ligeiramente bronzeados. 
A Índia tem um bilião de pessoas, se não for já mais, e o padrão parece ser único.
Ontem tirei uma foto de publicidade a uma máquina de lavar roupa. Aqui.

Goa, verão de 2016... -XIII-

As amplitudes térmicas são praticamente só térmicas: a humidade é altíssima mas o calor até agora bem suportável, se tivermos em linha de conta que a água salgada que mancha a nossa roupa não é ilusória. Mas hoje corre um ventinho agradável...

Goa, verão de 2016... -XII-

O sistema de castas foi abolido em 1950, três anos depois da independência.
O suicídio das viúvas após a morte dos maridos também foi abolido. Deste não sei como será em partes da Índia profunda.
Quanto às castas o problema parece permanecer real. Nos jornais são feitos relatos de problemas com dalits (os intocáveis), nomeadamente o que diz respeito a.... vacas. Qualquer ofensa contra as mesmas (roubo, morte, aproveitamento da pele) é motivo para grave problema.
Aqui em Goa, onde os hindus são maioritários mas não tanto com nos outros vinte e quatro Estados, por via da forte comunidade cristã, não se veem vacas pelas ruas, imponentes e sagradas. Mas também ainda não saímos de Panjim.

O racismo é absolutamente transversal a todas as sociedades. Mas aqui, por força da tradição, esse racismo atinge os píncaros, pois vem associado ao imobilismo social e estatutário.
Vimos pobres, bastantes pobres, bastante pobres, pelas ruas. Mas serão dalits?
Li no jornal que há poucos dias os dalits fizeram uma manifestação grande em Bombaim. Estará algo a mudar?