terça-feira, 9 de junho de 2020

Angola, Nero e Dickens...

Portugal é condenado na ONU pelos acontecimentos em Angola (iniciados 5 dias antes... ), Dickens morre de pobreza e Nero suicida-se depois de uma noite de jogo...
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Neste dia de 9 de Junho.
Destas coincidentes datas, tão próximas (...) umas das outras, só uma é totalmente verídica. E não é mentira que tenha sido em África...
Terá mandado incendiar Roma, ou tudo o que era espectável que fosse duvidoso, numa época sem Twitter nem conhecimento instantâneo mas cheia de intriga, ciúme, ganância e morte, era mesmo duvidoso? Quem assassinou quem, quem conspirou contra quem, quem mandou matar quem, quem intrigou contra quem, quem traiu quem, quem foi humanamente pior do que quem? Nero, sucessor de Calígula, instruendo de Séneca, suicida ou suicidado, de que fontes brotavam águas puras? Um pouco como os escritos bíblicos, compostos e recompostos quarenta anos DEPOIS dos supostos factos terem ocorrido ou sido imaginativamente criados e recriados. Vá de retro, heresia! 

" A partir de 1858, os seus últimos anos de vida serão ocupados principalmente com leituras públicas. Esse género de espectáculos, que consistia apenas em ouvir Dickens a ler as suas suas obras mais conhecidas, tornaram-se incrivelmente populares. Note-se que na altura era comum ler em voz alta em família ou em grupos – a leitura expressiva era muito valorizada. E Dickens, com a sua interpretação apaixonada e a forma como se entregava à narração, não só arrebatava gargalhadas (e, principalmente, lágrimas) das audiências, como se arrebatava a si mesmo, exaurindo as suas forças. O esforço despendido nestes espectáculos é, muitas vezes, apontado como uma das causas da sua morte. Em 1867 foi convidado a voltar aos Estados Unidos para uma digressão das suas leituras. Faleceu em 1870." (Tinha Eça de Queiroz 25 anos e se acha que uma coisa não tem nada a ver uma com a outra tem toda a razão!)
Angola acordou da miragem lusotropicalista numa alvorada de Junho e, 5 dias depois, a mãe-metrópole era condenada na ONU, condenações em que tínhamos como compagnons de route adoráveis sul-africanos e gentis israelitas.
Aproveitando com naturalidade as consequências do final da II Grande Guerra, a Índia foi a primeira a alcançar (1947) a independência 28 anos depois de Amritsar. Mesmo com a tragédia da sua partição imediata, indicou a via irreversível para o conjunto das populações subjugadas aos impérios.
A conferência de Bandung em 1955 e a roleta em dominó que se ia sucedendo pelos continentes africano e asiático não eram encenações: mas os míopes da transcendente especificidade lusa, o tão inventado Portugal do rio Minho até às missas de Dili tudo fizeram para que as consequências que vieram a ocorrer na década de 70 fossem as piores.
Mas na cabeça do governante que recebia a despacho cada ministro individualmente, não fossem 4 cabeças à volta de uma mesa de castanheiro poderem vir a ser subversivas, os portugueses tinham sido eleitos, como os auto-eleitos da Judeia e os puros arianos da savana do Sul e desertos.
Toda a gente, mesmo a gente que tinha vivido na contra-mão da História retomava um caminho sem retorno, numa mão consensual (para alguns, muito a contragosto...). 
Mas em São Bento, a omnisciência pobrezinha, mas honrada, é que ia no lado correcto da civilização. 
As greves e a repressão violenta de estivadores no porto de Bissau em 1959 tinham sido páginas de um livro carunchoso e decadente e um prefácio do romance trágico de 13 anos de guerra.
Mas estávamos sozinhos e, obviamente, muito bem e superiormente ("Vossa Excelência") acompanhados... 

Massacres Religiosos, Políticos e Raciais... IV

Massacres Religiosos, Políticos e Raciais... IV

Amristar, Índia, 1919,
só 28 anos antes da Independência... Aqui
Dá para imaginar os antes e os depois...