Pacheco Pereira e o martelo-pilão

“Vivemos de facto acima das nossas posses. Deveríamos poupar uma vida inteira para comprar casa só no fim. Ir ao médico só muito doentes. Ir ao hospital só de maca. Andar dois ou três quilómetros para apanhar uma camioneta. Ir ao restaurante uma ou duas vezes ao ano e só nas cidades. Emigrar em massa para qualquer "batimento" antes na França, agora em Angola. Cada dez famílias, uma ter um carro utilitário, que de vez em quando leva a família toda numa grande excursão a Fátima. Fazer dois anos de serviço militar obrigatório, escola profissional dos pobres, pré, comida e alojamento de graça e relações sociais úteis para arranjar trabalho. Como os nossos avós faziam. Como nos anos cinquenta. Só falta o sr. Presidente do Conselho sua excelência Professor Doutor António Oliveira Salazar. (…) Mas andar no tempo para trás, só na memória. Por que é que os velhos poupam? Porque se recordam dos seus pais e dos seus avós e da ancestral pobreza que ainda lhes conheceram. Por que é que os de meia-idade e os mais novos não poupam? Porque não sabem o que são verdadeiras necessidades. Vão descobrir agora. O martelo pilão que nos cai em cima todos os dias com impostos, cortes, fim de benefícios, aumentos de preços, etc., pode conseguir colocar-nos a viver um ano ou dois com défice zero, ou seja, conforme as nossas posses.”
(...)
É que o Governo está a precisar de sociólogos e historiadores, ou se quiser apenas de gente com algum saber do país e da vida, que não tenha vindo nem das jotas, nem do marketing, nem dos gabinetes tecnocráticos. Pode ser um padre da província, - um bom sociólogo prático -, ou um médico que ainda trata cirroses, ou um experiente funcionário das finanças, ou um juiz de idade, ou um velho polícia, que já viu muito do que é o seu país e que lhes explique que o Estado em Portugal não é apenas o que vem nos livros de economia, nem da vulgata que hoje passa por liberal. Não é apenas a causa da nossa pobreza, também é a única estrutura que mantém uma frágil barreira contra a pobreza. E não é pelos subsídios, que são estruturalmente perversos, não é pelos "serviços universais e gratuitos", que são socialmente injustos, é por ser o único produto de trezentos anos de acção dos portugueses que ainda tem "estrutura", que não se desmancha como um castelo de cartas. Até agora."
Gosto de ler e pensar mais fundo, mesmo quando não concordo nada com ele.
Do seu blogue, Abrupto, o artigo todo e mais esta citação, 
"Nothing in all the world is more dangerous than sincere ignorance and conscientious stupidity.!
(Martin Luther King Jr.)

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Joan Miró

Conclave