1572, Camões, "Os Lusíadas" e D. Sebastião
Da Lusitânia antiga liberdade,
E não menos certíssima esperança
De aumento da pequena Cristandade;
Vós, ó novo temor da Maura lança,
Maravilha fatal da nossa idade,
Dada ao mundo por Deus (que todo o mande,
Pera do mundo a Deus dar parte grande);
Vereis amor da pátria, não movido
De prémio vil, mas alto e quase eterno;
Que não é prémio vil ser conhecido
Por um pregão do ninho meu paterno.
Ouvireis o nome engrandecido
Daqueles de quem sois senhor superno,
E julgareis qual é mais excelente,
Se ser do mundo Rei, se de tal gente.
Ouvi: que não vereis com vãs façanhas,
Fantásticas, fingidas, mentirosas,
Louvar os vossos, como nas estranhas
Musas, de engrandecer-se desejosas:
As verdadeiras vossas são tamanhas,
Que excedem as sonhadas, fabulosas,
Que excedem Rodamonte e o vão Rugeiro,
E Orlando, inda que fora verdadeiro (...) "
Surpreendeu-me, na minha ignorância serôdia, a Motivação (se é que ela teria sido precisa) que o rapaz louro e de olhos azuis
recebeu de tão alta persona da nossa cultura (à época ainda não tão importante porque ainda não cunhada com o selo histórico). Se o carácter aventureiro, destemido e turbuloso de um se casava com o do outro não terá causado, especulo, grande espanto. Os da corte que temiam o pior de uma nova aventura sem preparação, organização e visão, a não ser a de já quimérica guerra Santa (útil em D. Afonso III para chegar às costas do Algarve mas já anacrónica com o recém Império a desfazer-se), não terão ocultado o seu temor. Pelo que se viu, em vão. As caçadas, corridas, desvarios do jovem casto e seus galhardos, foram, ou estavam a ser, a preparação para o que aí vinha. Matar lebres em Almeirim não era o mesmo que dizimar sarracenos em Quibir, para mais quando a conquista de Ceuta tinha já sido mais de um século antes, num contexto muito diverso. Mas vá lá meter-se tino no destino.
(Não tenho a mais pequena formação em História mas, fiel às minhas idiossincrasias, só gosto do que gosto, quando gosto e porque gosto. E assim acabarei.)
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