As Costas dos Outros
As dores das costas dos outros não costumam doer nada. É tão óbvio que parece tautologia. Só sentimos as nossas dores e, por isso, é que somos tão egoístas. Porque só elas são verdadeiras, as dores dos e nos outros só existem no pensamento que poderemos ou não querer construir sobre elas.
Mas nada disto é ou pode também ser real.
Lembro-me na Índia de 1987 (40 anos exactos depois da Independência de 15 de Agosto), termos ficado angustiados com o esforço desumano que infligíamos ao triciclista de rickshaw que nos levava pelas ruas de pó e calor, desdobrando os magros membros que, no suor e retesados e levados ao limite, lhe iriam permitir ter algumas rupias para a fome, os filhos ou o que mais fosse, conquanto não devesse ser muito.
E, no entanto, era ele o vencedor dos burgueses rickshaws motorizados que há época já também havia. Despesas de manutenção e combustível não tinha. Mas muito mais importante era ter trabalho, mesmo que fosse à custa de um esforço doentio.
40 anos depois, na Goa relativamente mais rica do que o Rajasthan de então, só rickshaws motorizados para nosso alívio.
(Uma vez, em Hánoi, um táxi-mota fenomenal dava-nos toda uma outra perspectiva, até porque muito mais movimentada, barulhenta e estranhamente nada caótica)
Agora, há poucos dias e num cenário completamente diferente, assisti à força bruta nas costas de quem vive acartando, subindo, descendo escadas e patamares, corredores e varandas. Pensei no homem de Agra.
Penso muitas vezes no homem, e nos homens e nas mulheres de todas as Agras do mundo.
Mas nada disto é ou pode também ser real.
Lembro-me na Índia de 1987 (40 anos exactos depois da Independência de 15 de Agosto), termos ficado angustiados com o esforço desumano que infligíamos ao triciclista de rickshaw que nos levava pelas ruas de pó e calor, desdobrando os magros membros que, no suor e retesados e levados ao limite, lhe iriam permitir ter algumas rupias para a fome, os filhos ou o que mais fosse, conquanto não devesse ser muito.
E, no entanto, era ele o vencedor dos burgueses rickshaws motorizados que há época já também havia. Despesas de manutenção e combustível não tinha. Mas muito mais importante era ter trabalho, mesmo que fosse à custa de um esforço doentio.
40 anos depois, na Goa relativamente mais rica do que o Rajasthan de então, só rickshaws motorizados para nosso alívio.
(Uma vez, em Hánoi, um táxi-mota fenomenal dava-nos toda uma outra perspectiva, até porque muito mais movimentada, barulhenta e estranhamente nada caótica)
Agora, há poucos dias e num cenário completamente diferente, assisti à força bruta nas costas de quem vive acartando, subindo, descendo escadas e patamares, corredores e varandas. Pensei no homem de Agra.
Penso muitas vezes no homem, e nos homens e nas mulheres de todas as Agras do mundo.
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