Revista, BENFICA e Salvador
O que podem estes dois "panfletos" ter de comum, ou que minimamente se relacionem?
Temos um homem dividido entre duas exposições públicas intensas. Embora o futebol já arrastasse pequenas multidões, a arte cénica era talvez mais atractiva pelo contacto intenso com um público reactivo e, sobretudo, por garantir uma subsistência que o futebol naquela altura não dava, nem talvez se imaginasse que viesse a dar mais tarde.
O pelado não se compararia às luzes da ribalta e havendo mesmo uma revista chamada...
"(...) "Foot - Ball" em 1925, da autoria de "Gregos e Troianos", músicas de Raul Portela, com Lina Demoel, Hortense Luz, Carlos Leal, Alberto Ghira, Alfredo Ruas e Elisa de Guisette, "A Ramboia" em 1928, da autoria de Luís Galhardo e Xavier de Magalhães, músicas de Hugo Vidal, Raul Ferrão e Frederico de Freitas, com Corina Freire, Hortense Luz, Alberto Ghira e António Silva. A partir daqui os sucessos não iram parar nas décadas seguintes no Teatro Maria Vitória.
A revista "Cartaz de Lisboa" em 1937 foi um sucesso de cartaz, da autoria de Lino Ferreira, Fernando Santos, Lourenço Rodrigues e Xavier de Magalhães, músicas de Raul Portela, Raul Ferrão e Fernando Guimarães com Estêvão Amarante, Mariamélia, Alfredo Ruas, Carlos Leal e Hortense Luz, "O Banzé" em 1939, da autoria de "João Ninguém", músicas de Raul Portela, Raul Ferrão e Fernando de Carvalho, com Vasco Santana, Maria das Neves, Hermínia Silva, Carlos Leal e Costinha.Em 1942 a revista "Voz do Povo", da autoria de Ascensão Barbosa, A. Nazaré, A. Cruz e António Porto, músicas de Raul Portela, Raul Ferrão e Fernando de Carvalho, com Hermínia Silva, Augusto Costa e Ribeirinho. Fizeram grande sucesso em 1955 a revista "Ó Zé Aperta o Laço", da autoria de Amadeu do Vale, Aníbal Nazaré e Eugénio Salvador, música de Tavares Belo e Ferrer Trindade, com António Silva, Irene Isidro, Alfredo Ruas, Barroso Lopes, Anne Nicoles e Anita Guerreiro. Já na década de 60, em 1967 outro grande sucesso a revista intitulado "Pão Pão Queijo Queijo", da autoria de Aníbal Nazaré, Eugénio Salvador e José Viana, músicas de João Nobre e Carlos Dias, José Viana, Eugénio Salvador, Max, Mariema, Maria Dulce, Anita Guerreiro e Dora Leal, em 1969 a revista "Esperteza Saloia", da autoria de Aníbal Nazaré, Eugénio Salvador e José Viana, músicas de João Nobre e Carlos Dias, com Eugénio Salvador, José Viana, Mariema, Barroso Lopes, Dora Leal, Helena Tavares, Dina Maria e Victor Mendes".(...)
Do formoso grupo de "discípulas" não se sabe nada, só que era um grupo (bailarinas, figurantes?).
Do grande "ballet", e ainda por cima, "internacional", só se suspeita o conceito, se é grande e, dedutivamente, "famoso", faltaria o nome mas, que importa?
A atracção nacional HELENA TAVARES competiria com a "congénere" asiática e o sucesso era garantido. Mas ainda na área revisteira um elenco jovem e fogoso: o nosso Eugénio, o Barroso (falecido há pouco), o José Viana (pintor, decorador, encenador, actor com uma peculiar forma de falar e de articular os esgares, morto num acidente de viação, aos 80 anos), a Dora Leal, sua companheira de palco e de parte de vida, o pai de Fernando (sempre concorrentes na forma arredondada mas simpática de estar), a homónima do caudillo galego e a Cassola de origem desconhecida para alguém que ainda não tinha nascido... A esperteza saloia não tinha brotado de geração espontânea, nem de mutações cromossómicas. Pelo contrário, ela já estaria/estava/está no cromossoma original dos
muito antigos/antigos/pouco antigos e atuais portugueses.
(De resto não é especificidade ibérica...)
O saloio esperto é o que se acha ainda mais esperto do que acha que os outros o acham. O saloio tem-se em alta consideração mas não arvora uma proeminência visível. Faz parte da estratégia. Actua com subtileza e enrola os outros quando só mostra que sabe pouco. O saloio esperto é um espertalhão das dúzias! O saloio esperto, por vezes, é vítima da sua saloiice quando encontra outro esperto ainda mais saloio do que ele.
Mas afastámo-nos do nosso Salvador. Como é que fui dar a ele que deixou de fazer espectáculo de gargalhada (assim, no singular) em 1992, com 83 anos?
Já não me lembro. Talvez por ter feito uma mudança de casa e de, talvez, estar na arrumação da prateleira do Benfica, na nova biblioteca, e ter dado com um sujeitinho muito parecido com o... Eugénio Salvador com a nossa camisola!
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