Conclave

(A partir do filme "Conclave")

Existem momentos em que estamos no Espaço mas não estamos no Tempo. Outros há em que é o contrário, estamos no Tempo mas não no Espaço.

Tinha dezanove anos quando entrei e vi a Capela Sistina. Estava sozinho, as pinturas não estavam ainda restauradas, não sei mesmo se havia algum plano nesse sentido. Havia muitas pessoas de pescoços atordoados e espantos incorporados. Mas nada do que imagino que será nos dias (Tempo) de hoje, a não ser que haja o relativo bom senso de controlar as entradas e saídas, como num qualquer estabelecimento comercial de média ou pequena dimensão...O prazer da fruição de um Espaço único mas com controlo administrativo...

Estava no Espaço mas não estava no Tempo. Gostei, alimentei as sensações mas não tinha capacidade para interiorizar e assimilar por dentro a explosão de referências e cores. Passei como um viajante que vai no comboio e vê paisagens lindas voando mas incapazes de serem capturadas e degustadas. A minha inaptidão sensorial estava intimamente ligada à escassa vivência da Arte.

Agora tenho várias décadas mais nos olhos e nos sentires e tenho, talvez, olhos e instrumentos que me permitiriam aprofundar e fazer a mesma viagem, que nunca é a mesma, viagem de comboio com tecto panorâmico e sentimentos em câmara lenta, ao ralenti e com paragens constantes e eternamente intemporais. Mas agora tenho o Tempo, talvez certo, mas não tenho o Espaço, passível de ser de novo alcançável mas decididamente improvável.

Até porque já não suportaria a convulsão humana dos dias de hoje.

Conclave

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