Churchill: o Outro Lado Também Existiu
No Público
"Churchill “era racista”?
No caso de Churchill (1874-1965), é antigo o debate sobre o balanço das contradições entre a sua maior batalha, o seu legado como “libertador” da Europa e herói antifascista e o seu quadro de valores humanos e sociais. Muito por causa das declarações discriminatórias e xenófobas que fez, na sua época, sobre indianos, palestinianos, sudaneses, australianos ou indígenas norte-americanos.
Em 1937, por exemplo, tomou esta posição: “Não admito que se tenha feito um mal assim tão grande aos índios vermelhos da América ou às populações negras da Austrália. Não admito que se tenha feito mal a estas pessoas pelo facto de uma raça mais forte, uma raça de grau superior, uma raça mais mundana, por assim dizer, ter chegado e tomado o seu lugar”, disse Churchill numa comissão sobre a Palestina, citado pela BBC.
“Não percebo as reticências sobre o uso de gás. Sou firmemente a favor do uso de gás venenoso contra tribos incivilizadas”, defendeu anos antes, em 1919, num memorando, referindo-se às populações curdas e iraquianas que resistiam à ocupação britânica depois da queda do Império Otomano.
Pelo meio, houve mais declarações controversas. Como a sugestão de que a grande fome de 1943 na Índia britânica, se deveu ao facto de os indianos “se reproduzirem como coelhos”, o rótulo de “selvagens” colocado nos rebeldes sudaneses que se insurgiram contra o Império ou a descrição dos palestinianos, em 1930, como “hordas bárbaras que não comem mais do que estrume de camelo”.
O homem que fez frente a Adolf Hitler e ao fascismo era racista? “Winston Churchill era racista, mas ainda assim era um grande homem”, respondeu desta forma, há mais de um ano, o membro da Câmara dos Lordes, pelo Partido Conservador, e ex-director executivo do Times, Daniel Finkelstein. “Sim, Churchill era racista. Mas é apenas uma parte da verdade sobre este homem politicamente complexo”, escreveu esta segunda-feira, por seu lado, o editor-adjunto do Independent, site noticioso de esquerda, Sean O’Grady.
A queda de Colston
Mesmo tendo o racismo e o passado imperial britânico como focos, o episódio de Bristol, motivou, ainda assim, um debate de natureza diferente, por ter um elemento de eliminação de propriedade pública por decisão – e mão – de um grupo popular específico.
Desde o primeiro-ministro, Boris Johnson, passando pelo líder da oposição, Keir Starmer, ou pelas autoridades locais, praticamente todos concordaram que a forma como a estátua de Edward Colston foi derrubada e atirada à água foi “errada” e até “criminosa”, por não ter sido o resultado de um processo aprovado democraticamente.
Mas entre os detentores de cargos públicos, há quem compreenda os motivos pelos quais se derrubou a estátua de um homem que comercializou cerca de 80 mil vidas humanas, entre Reino Unido, África e América, e cujo nome é famoso em Bristol, em grande medida, por causa das enormes quantias de dinheiro que deixou à cidade aquando da sua morte, em 1721.
“Tenho ascendência jamaicana e não posso fingir que tive qualquer tipo de sentimento de perda pela estátua, tal como não posso fingir que a sua existência, no meio de Bristol, a cidade onde cresci, me fazia sentir algo de diferente do que uma afronta pessoal”, admitiu o presidente da câmara, Marvin Rees.
“Embora desapontado por ver as pessoas danificarem uma das nossas estátuas, compreendo porque é que o fizeram. É bastante simbólico”, acrescentou o chefe da polícia local, Andy Bennett.
Na sua intervenção no Parlamento, esta segunda-feira, a ministra do Interior, Priti Patel, destacou as 135 pessoas detidas em todo o país, por causa de desacatos e confrontos com a polícia, para condenar a “minoria” de manifestantes que “destruiu propriedade privada”.
Ao mesmo tempo, lembrou que, também ela – de ascendência paquistanesa –, sofreu racismo na pele e que, por isso, “não recebe lições” da oposição sobre o tema. E prometeu “justiça""
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