Os gatos e o meu gato

Os gatos são essa tribo independente que os dependentes tanto invejam. Não conseguem, porque não percebem que ser livre não é fazer o que se quiser mas querer tudo o que se faz. A toda a hora e sem sapos.

Um dependente nunca compreenderá porque toda a vida faz o que acha que deve ou tem de fazer. Ao contrário dos gatos.

O meu gato passou a primeira noite fora de casa. Fugiu do conforto da comidinha sempre certa e da ternura do calor da pele para o desconforto da noite escura e alta.
Ele não queria bem fugir. Ele não sabia era como voltar.
Ele, no fundo, queria correr mundo nem que fosse no telhado bem pertinho, vá dar-se o caso de não saber o que pensar.

Pelo menos, foi isso que eu quis acreditar.
Não tinha medo de pneus assassinos, ou de matilhas desbocadas, nem de víboras lendárias.
Tinha medo não sei de quê.
Além disso era a sua primeira vez. O que tinha eu com isso afinal?

Voltou, ajudado, de manhã, com pelo sujo e com barriga temerosa e fria.
Vi-lhe nos olhos a sapiência de quem sabe que viveu o inferno no melhor dos céus possíveis.
Arranjei um everest que o impedisse de repetir, nem dois segundos se passaram naquele pulo fantástico de não vir.
Agora, está preso no castelo dos sapos. Chora sem chorar para não se ver o que é um gato chorar. Aprendeu com os humanos a fingir? 

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